Salesio Nuhs, presidente da Taurus e um dos responsáveis pela reestruturação da companhia, conta os bastidores do negócio da principal fabricante de armas do país
Com um jeitão aberto de falar, como ele mesmo classifica, Nuhs topou me receber em seu escritório, que fica ao lado da principal fábrica da Taurus em São Leopoldo (RS). Em pouco mais de 50 minutos de entrevista, ele mostrou satisfação com a “virada” da companhia nos últimos anos e uma visão otimista para o futuro.
O decreto do presidente Jair Bolsonaro flexibilizando algumas regras para o porte de armas foi visto por Salesio como um divisor de águas. Segundo ele, a nova norma é capaz de expandir (e muito) as vendas no Brasil. Vale lembrar que, atualmente, apenas 15% de toda a produção de armas da Taurus é destinada ao mercado nacional.
E por falar em produção, Salesio se orgulha das 4 mil armas que são fabricadas diariamente em São Leopoldo. De acordo com ele, a transformação tecnológica permite que a empresa tenha ampla margem de atendimento. “Se as vendas no Brasil crescerem 30% ou 50%, não tem problema, eu irei atender”.
O presidente da Taurus também falou sobre o recente “boom” das ações da companhia na bolsa, que chegaram a se valorizar mais de 700% em pouco mais de um mês. Saindo da caixinha do “mito”, ele afirma que a valorização dos papéis sempre esteve muito além das questões políticas. Veja no vídeo abaixo os bastidores da fábrica da Taurus e suas perspectivas para o negócio:
A Taurus passou por um processo de reestruturação produtiva e financeira nos últimos anos. Como foi para você conduzir esse processo?
Quais os resultados obtidos nessa reestruturação?
Nosso último balanço financeiro, do terceiro trimestre de 2018, mostra que a Taurus apresentou o melhor resultado operacional desde 2009. Com uma significativa melhora da sua margem bruta e importante redução de despesas administrativas e comerciais, estes fatores vêm demonstrando que o processo de reestruturação está sendo bem-sucedido.
Os números ainda mostram um grande desafio, sobretudo em relação ao patrimônio e dívida, mas também apontam para uma reação da empresa em termos de lucratividade.
Apesar da melhora operacional, o endividamento segue alto…
A Taurus passou por uma forte transformação com apoio da Galeazzi & Associados, que desde o final de 2017 trabalha em conjunto conosco na melhoria dos processos produtivos, financeiros e comerciais.
Em 2018, a companhia realizou a requalificação dos fornecedores, desenvolveu mais de 74 novos produtos, promoveu mais de 100 demonstrações em feiras e eventos diretamente ao mercado policial e militar, e deu início a construção da nova unidade fabril no estado americano da Georgia (EUA), que possibilitará um importante incremento na produção local em mais de 50% e o aproveitamento das melhorias operacionais, comerciais, fiscais e logísticas que o estado da Georgia oferece.
O planejamento estratégico, de fato, não vai pagar a nossa dívida. Então, qual é a saída? Ainda no ano passado, tivemos um reperfilamento do endividamento da companhia com seus principais credores, com um alongamento de cinco anos, sendo um ano de carência e taxas atrativas, o que reduziu mais de R$ 130 milhões o custo dos juros. Além disso, houve a disponibilização para venda de ativos e negócios não operacionais da companhia para a redução da dívida, como a operação de capacetes e o terreno da antiga planta em Porto Alegre. Estimamos que o desinvestimento nestes dois ativos pode abater cerca de R$ 150 milhões do nosso endividamento.
Em outubro de 2018 a empresa também lançou um aumento de capital através da emissão bônus de subscrição que podem proporcionar um aumento de capital de até R$ 402 milhões. As captações até R$ 300 milhões também serão utilizadas para redução de dívida. Acima deste valor, 50% vai reforçar o caixa e 50% vai reduzir a dívida da companhia.
O recente “boom” das ações da Taurus coincidiu tanto com a eleição de Bolsonaro quanto com o aumento de capital da companhia. Como você encara essa valorização dos papéis?
Para mim foi uma coincidência. A renegociação da nossa dívida aconteceu em abril de 2018, e nesse acordo já estava previsto um aumento de capital. Nós temos um planejamento estratégico muito bem definido e não sei explicar os motivos para essa valorização das ações. É uma coisa que o mercado fez. Da minha parte, eu posso dizer que nós tivemos influência nos resultados constantes da companhia.
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